Amália Rodrigues ao Vivo no Coliseu dos Recreios, 3 de Abril de 1987
Cotação: * * * * 1/2
Acompanhantes:
Guitarras – Carlos Gonçalves e Pinto Varela
Viola – António Moliças
Viola Baixo – Joel Pina
1. Variações em Mi Menor
2. Fadinho Serrano
3. A Manhã é uma Andorinha
4. Lavava no Rio Lavava
5. Grito
6. Prece
7. Rua do Capelão (Novo Fado da Severa)
8. Ai Maria
9. Gaivota
10. Chora Mariquinhas Chora
11. Arraial de Sto. António
12. Lá Vai Lisboa
13. Don Solidon
14. Timpanas
15. Obsessão
16. Maria Lisboa
17. Povo Que Lavas no Rio
18. Rosinha da Serra D’Arga
19. Quando Eu Era Pequenina
20. Barco Negro
21. Lágrima
22. Há Festa na Mouraria
23. Falaste Corazón
24. Fado Malhoa/Ai Mouraria/Que Deus Me Perdoe/O Fado de Cada Um
25. Foi Deus
26. Malhão
27. Amália
28. Porompompero
A 3 e 4 de Abril de 1987, Amália realizou 2 concertos que foram rodeados de grande expectativa e que esgotaram logo que os bilhetes foram colocados à venda. Curiosamente e inexplicavelmente, Amália só começou a dar espectáculos regularmente em Portugal a partir da década de 80.
O primeiro espectáculo do Coliseu foi realizado a 3 de Abril de 1987 e foi gravado pela Editora Valentim de Carvalho. Esta gravação, foi comercializada numa caixa com 3 LP’s que apresenta o concerto integral realizado nessa noite. Quando foi lançada no ano seguinte, esta caixa esteve várias semanas nas tabelas dos discos mais vendidos.
A 2ª metade da década de 80, foi uma altura em que a voz de Amália Rodrigues já evidenciava um desgaste natural. Mas o que perdeu em brilho e frescura, compensou com drama, emoção, virtuosismo e uma capacidade de improvisação só alcançada pelas grandes cantoras de jazz. Este concerto foi uma excepção a este declínio, que provavelmente só pode ser explicado pela evidente felicidade e alegria de Amália demonstrada ao longo dessa noite. Aliás, deve ter sido um momento único para quem testemunhou este concerto. Percebe-se facilmente que o público está em êxtase absoluto com a oportunidade de ouvir esta extraordinária cantora. Ao longo das várias músicas, seguem-se minutos de aplausos que parecem não ter fim, muitas vezes irrompem as palmas e os vivas no meio das músicas quando a voz de Amália atinge notas que os presentes já pensavam perdidas. Efectivamente é um facto que neste concerto a voz de Amália, atinge alturas e uma carga emotiva que já não era visível por exemplo no concerto no Japão registado no ano anterior (1986).
Após uma introdução instrumental, a entrada em palco de Amália começa com o popular Fadinho Serrano que dá o mote para uma noite que promete. Segue-se uma 1ª parte constituída por fados mais dramáticos e um tom mais introspectivo, com uma Amália ainda um pouco nervosa, como ela mesmo confessa.
Uma curiosidade, nas músicas Arraial de Sto. António (cantado pela 1ª vez ao vivo por Amália) e Lá Vai Lisboa, Amália é acompanhada por uma banda filarmónica.
A partir de Lá Vai Lisboa, começa uma parte mais alegre e com maior participação do público que chega a cantar em coro várias músicas para grande alegria de Amália.
Um dos destaques deste concerto são os acompanhantes. Músicos de altíssimo nível que efectivamente brilham sem ofuscar a estrela. Além de uma competência exemplar, demonstram uma técnica irrepreensível e uma facilidade de adaptarem-se aos sucessivos improvisos e variações que Amália vai introduzindo nas várias músicas.
É difícil destacar momentos deste concerto, porque todo ele é absolutamente memorável.
É difícil não nos emocionarmos ou não ficarmos arrepiados com a versão de Povo Que Lavas no Rio, com as nuances e os improvisos que a tornam uma das melhores versões deste fado, que é seguido de 5 minutos de aplausos de um público absolutamente rendido, apenas interrompidos por um discurso emocionado de Amália.
O concerto termina em apoteose com uma versão explosiva de Porompompero. Seguem-se aplausos ininterruptos, que só terminam quando Amália volta uma vez mais e faz um emocionado discurso de agradecimento e despedida.
Uma curiosidade, este concerto foi filmado pela RTP, talvez uma boa oportunidade para um lançamento em DVD. Entretanto, é absolutamente lamentável que este concerto ainda não tenha sido editado em cd…